quarta-feira, 25 de março de 2020

Atividade 2 (APC) para o dia 27/03/2020 - 9º A e 9º B


Você já deve ter visto, pessoalmente ou pela televisão, faixas e cartazes de protesto. Pode também ter ouvido canções que denunciam problemas políticos ou sociais. O poema que você vai ler agora é de Ferreira Gullar (1930-2016), escritor que tratou de temas sociais de grande relevância.
      
         A bomba suja

Introduzo na poesia
A palavra diarreia.
Não pela palavra fria
Mas pelo que ela semeia.

Quem fala em flor não diz tudo.
Quem me fala em dor diz demais.
O poeta se torna mudo
sem as palavras reais.

No dicionário a palavra
é mera ideia abstrata.
Mais que palavra, diarreia
é arma que fere e mata.

Que mata mais do que faca,
mais que bala de fuzil,
homem, mulher e criança
no interior do Brasil.

Por exemplo, a diarreia,
no Rio Grande do Norte,
de cem crianças que nascem,
setenta e seis leva à morte.
É como uma bomba D
que explode dentro do homem
quando se dispara, lenta,
a espoleta da fome.

É uma bomba-relógio
(o relógio é o coração)
que enquanto o homem trabalha
vai preparando a explosão.

Bomba colocada nele
muito antes dele nascer;
que quando a vida desperta
nele, começa a bater.

Bomba colocada nele
Pelos séculos de fome
e que explode em diarreia
no corpo de quem não come.

Não é uma bomba limpa:
é uma bomba suja e mansa
que elimina sem barulho
vários milhões de crianças.

Sobretudo no nordeste
mas não apenas ali
que a fome do Piauí
se espalha de leste a oeste.

Cabe agora perguntar
quem é que faz essa fome,
quem foi que ligou a bomba
ao coração desse homem.

Quem é que rouba a esse homem
o cereal que ele planta,
quem come o arroz que ele colhe
se ele o colhe e não janta.

Quem faz café virar dólar
e faz arroz virar fome
é o mesmo que põe a bomba
suja no corpo do homem.

Mas precisamos agora
desarmar com nossas mãos
a espoleta da fome
que mata nossos irmãos.

Mas precisamos agora
deter o sabotador
que instala a bomba da fome
dentro do trabalhador.

E sobretudo é preciso
trabalhar com segurança
pra dentro de cada homem
trocar a arma de fome
pela arma da esperança.

1. Releia a primeira estrofe.
a) No primeiro verso, a expressão na poesia sugere que a palavra diarreia será introduzida nesse poema especificamente ou nos textos poéticos em geral?
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b) Em sua opinião, o que explica a ausência da palavra diarreia na poesia?
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2. O poema desenvolve um raciocínio.
a) Quais dados provam os terríveis efeitos da diarreia?
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b) Em quais versos se revela que esse problema de saúde é antigo?
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c) Em que estrofe o eu lírico mostra a abrangência da doença no Brasil?
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d) Segundo ele, qual é a causa da diarreia?
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3. Na sua opinião, o eu lírico apresenta um discurso agressivo? Por quê?
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4. Qual é o objetivo do poema?
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5. Escolha uma estrofe do poema, copie e desenhe sua percepção do trecho escolhido.

Fonte: ORMUNDO, Wilton. Se liga na língua: leitura, produção de texto e linguagem - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2018, pp. 18-19.

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